Um espaço para sermos …circunstancialmente…

Recentemente encontrei um amigo – formou-se comigo no seminário teológico – num shopping. Como tem sido comumente, sempre que encontro amigos originados no meio religioso a primeira pergunta que eles sempre me fazem é: “onde você está?”. A segunda, mais por curiosidade do que por interesse genuíno, é “como está sua família?”.

Não foi diferente. As duas perguntas foram feitas por esse meu amigo, na seqüência citada. Para a primeira pergunta (“onde você está?”) eles querem implicitamente perguntar: “em que igreja você está?”. Isto porque na mente destes só se está em algum lugar quando se está em uma igreja (igreja aqui = instituição religiosa). “Onde você está?”. Já fiz muito essa pergunta. Pior que fiz. Por ter feito muito é que escrevo com mais misericórdia do que gostaria. Visto estar comentando algo que já fiz anteriormente diversas vezes. O que estes que fazem essa pergunta não entendem é que: igreja não é lugar, primeiramente. Isso é deturpação humana para o movimento inaugurado por Jesus. Igreja nunca é estática. No máximo ela “estava” em uma cidade (ou nunca leram o apóstolo Paulo e o discípulo Simão escrevendo ‘aos santos de tal cidade’?). Nunca teve endereço certo, no máximo em alguma casa. Nunca teve CNPJ. Nunca. Em segundo lugar, eles não entendem que ninguém “vai” a igreja. Visto que igreja não é lugar físico. Se eu não vou eu não poderei estar em alguma. Ao mesmo tempo eu sempre estou, visto que igreja é a consciência divina daqueles que são filhos dEle. Portanto, à pergunta “onde eu estou?” só consigo responder ‘onde sempre estive e nunca saí’. Estou/sou seguidor de Jesus. Só. Tudo isso. De seita nenhuma. De instituição religiosa nenhuma. De guru nenhum. De líder religioso nenhum. Não faço parte de nenhuma instituição que tenha placa na frente e CNPJ em seus documentos. De nenhum lugar onde existam pessoas recebendo dinheiro (e seus familiares pois sempre encontram um jeito de colocar a esposa na área da administração, música, etc) de um povo já tão pobre e sofrendo tanto com a pobreza. De nenhum lugar onde se peçam doações aos cristãos chamando os que não doam de “não comprometidos e infiéis” quando na verdade isso se chama extorsão. Mas continuo estando nas mãos do único que se chamou de O Caminho. Se só há UM, não é necessário se estar em lugar nenhum mais. Continuo visitando de forma infreqüente (quase rara) algumas instituições religiosas. Mas, já não combino com a maioria dos ritos próprios de cada uma delas. Filiar-me a elas me violentaria sobre aquilo que penso ser o Evangelho e o movimento inaugurado por Jesus. E acabaria violentando os que não pensam como eu.

Para a segunda pergunta “como está sua família?” eles querem perguntar, na verdade: ‘houve mais algum problema gerado por você em sua família?’ ou ‘você conseguiu realmente refazer sua família depois de todos os desastres que você causou com sua separação inicial?’ ou ainda ‘sua família se refez mesmo ou é só fachada?’. Minha resposta a todas essas intenções é simples: Não é da conta de nenhum de vocês. Não interessa.

Só eu sei o que eu, minha esposa e minha família (pais e irmãos) sofremos quando eu decidi confessar que iria me separar devido a tantos problemas pessoais que eu estava enfrentando (e até morais). Só eu sei, como diz Djavan. Só eu sei como a multidão homicida/hipócrita caiu em cima de mim devido às minhas confissões. Ainda hoje, quase 06 anos depois, ainda encontro gente ávida por notícias de minha vida. Foi quase um Reality Show para os crentes meus dramas e a seqüência de problemas pessoais. Pior de tudo é que eles torciam por um final triste. A única visita que minha esposa recebeu de um líder religioso da antiga instituição que fazíamos parte foi porque ele soube que estávamos reconstruindo tudo e ele foi lá – num dia em que eu estava viajando a trabalho pois se eu estivesse ele não teria coragem de ir – tentar fazer com que minha esposa mudasse de idéia. Por isso, só eu sei o que passei e as molecagens feitas pelos que torciam por um final triste. Não houve. Eles não contavam que Deus – tal como na cena de Jonas pregando em Nínive torcendo pela destruição deles – restaura tudo. Independente da vontade dos contrários. E assim Ele fez. Na verdade, Ele vem fazendo todo dia visto que todos os dias enfrentamos problemas, pecados, desvios, erros, falhas e precisamos contar com as interferências de Deus para Ele ir consertando nossas idiotices e nos ensinando a ser melhores.

Só eu sei o que se sofre quando se decide expor falhas numa instituição religiosa. Por isso, a vocês que adoram me perguntar isso segue minha resposta: “não é da conta de vocês. Não interessa”. Só interessa aos amigos. Aos que freqüentam minha casa (quando eu não estou viajando). Aos que dividem comigo meus problemas. Aos que almoçam comigo. Jantam. Saem. Estes sabem como está minha família. E Deus.

Por isso, àquele amigo no shopping minha resposta às duas perguntas que ele fez foram:

eu estou trabalhando. Visto que nunca mais pretendo ganhar dinheiro de atividade religiosa alguma. À minha vocação eu só me dou, nunca ganharei mais nada. Será sempre de entrega nunca mais de recebimento pessoal algum.

– minha família? Estão lá na praça da alimentação me esperando…preciso me apressar porque minha filhinha está com fome. Abraços e tchau.

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